Dedos mortos
Por André Prada
Dedos Mortos Para Joyce “Durante vinte anos, fui o primeiro da lista de que era o próximo a morrer. Fiquei decepcionado quando caí no ranking” Keith Richards Desta vez ele poderia ter razão, os Stones sempre estiveram presentes em nossas vidas, de todas as maneiras possíveis, principalmente das impossíveis, talvez devêssemos tentar...o que nos restava a não ser virarmos pó...sim...aquele pó de muito baixa qualidade?
Eu seria o canto da frente, ele, a guita sinistra do fundo escuro do palco, dividiríamos as ofensas e os elogios. Por que não? Nada de louros. Talvez poucos louros e muitos pretos.
Blequitude, o barroberro dos Stones é negro como as agradáveis noites à beira do Mississipi. Sons de açoites são estações que ficaram para trás. The train comes from station to station... and I look into your eyes...all my love in vain...trilhas prateadas iluminadas pelo pranto lunar. Baladas melancólicas regadas a álcool, cocaína, nicotina e a morfina que sobrasse pros dias seguintes...tudo era belo e possível, you can, sometimes, get some satisfaction, Chuck, Muddy, Warhol, dionísios e bacos no mesmo barco, Matisses e Mirós mirando as mesmas boquitas daquelas noites. Tive sempre a sensação de que se estivesse à boca de um respirador, no fim da minha undercovid 19, last station, no way to run, no maybe do meu last time, o som da bateria do Charlie 500W viria me ressuscitar do coma, so cam'on, cam'on, cam'on, tátátátátá, tchiiissssssss...e o pí pí pí do meu ECG me faria voltar ao sal da terra, tchum, tchum, tchum...minhas veias voltariam a ondular... e então, arrancaria os tubos, levantaria meu pescoço e num último esforço, arriscaria o penúltimo esboço: LET IT BLEED!
André Prada é médico e cantor.
Ilustração: capa do disco Let It Bleed.
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