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Tensão sobre o Tom

Atualizado: 23 de jun. de 2022

In a Silent Way, por Paulo Reda


Esse período de confinamento tem sido particularmente cruel com os fãs de jazz. De dois meses pra cá, morreram pelo menos cinco jazzistas de primeira linha: Wallace Roney (trompete), Buck Pizzarelli (guitarra), Ellis Marsalis (piano), Jimmy Cobb (bateria) e, para mim, o mais dolorido, Lee Konitz (sax-alto).


Todos, com exceção de Cobb, infectados pela tal “gripezinha”, menosprezada pelo mentecapto que atualmente habita o Palácio da Alvorada.


Desse grupo, tive o privilégio de assistir ao vivo a três. Wallace Roney duas vezes, no show em que o saxofonista Gerry Mulligan recriou o repertório do disco Birth of Cool, de Miles Davis (Konitz participou da sessões originais, em 1949 e 1950), e na homenagem feita aos 50 anos de outro trabalho de Miles, Kind of Blue. Esse último, aliás, foi comandado por Jimmy Cobb, que na época (2009) era o único sobrevivente do grupo que gravou a obra-prima milesiana. Sobre a apresentação de Lee Konitz segue uma historinha...


O melhor show que assisti na vida foi o do Max Roach no Free Jazz de 1989, no finado Palace. Arrisco dizer que o segundo melhor foi o do Lee Konitz no Free Jazz de 1997, mas dessa vez no palco montado no Aterro do Flamengo.


Estava acompanhado do Japs e da sua mulher, a Rô. Quando chegamos por lá, percebi que havia exagerado um tanto nas doses de uísque no aquecimento. Perdi quase toda a apresentação anterior a do LK, tentando me recompor da carraspana. Quando LK subiu ao palco, eu já estava quase recuperado. Fiquei um pouco na mesa com eles e depois fui ver o show apoiado no balcão do bar, bem perto do palco.


Formação minimalista, baixo, bateria e LK no seu sax-alto. Uma coisa aparentemente muito simples, mas que se tornava mais estimulante a cada música, em especial pelos solos de sax, intrincados, mas com um swing danado. Ao final, eu e Japs concordamos que havia sido a melhor apresentação de um solista que já havíamos presenciado.


Caras de pau, ainda fomos aos bastidores e conseguimos um autógrafo do mestre, que está na foto. E ao sair, ao invés das ruas feias de São Paulo, o que vimos foi a beleza do Aterro do Flamengo, em mais uma noite carioca esplendorosa.


Paulo Reda é jornalista e cronista.

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