Ela
“O luto que une o cérebro às entranhas|”.
“Estrela Roxa” – Mário Faustino”
Como te vejo, sempre...
não como figura cotidiana,
mas parada no alto da escada,
a mão como uma flecha a apontar
para o peito do ímpio,
que retorna aturdido à caverna.
O que era sonho volta a ser sonho.
Tua ausência transforma-me no que eu mais temia.
O homem da casa! Não aceito, fujo, pra onde?
Afogo todas as ilusões.
Nunca aguardei teu beijo antes de dormir, confesso,
o que não foi não poderia ter sido,
esgotámo-nos.
O choro incomum desperta a casa,
a náusea vem como lembrança ruim,
do desconsolo da infância.
Em tuas gavetas emboloradas busco uma resposta,
mas só encontro outras perguntas, em sorrisos juvenis.
Passei a vida a construir
com restos de embarcações
o meu cais.
Todo o orgulho da obra, porém,
nesse momento se esvai.
E digo, com renovado temor:
sou insuficiente!
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