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Palavrório

Os fantasmas de Carlos Gomes

Por Thiago de Souza

 

“Só voltarei coroado de glória ou só voltarão meus ossos!”

 

Essa profética frase do maestro Carlos Gomes, quase se concretiza.


Ao bem da verdade ele voltou consagrado, morto, mas não apenas seus ossos.


Depois de sua morte em 16 de setembro de 1896, na cidade de Belém do Pará, Tonico foi embalsamado e transladado para Campinas, em uma jornada de quase um mês.


Chegando em Campinas, após um concorrido cortejo fúnebre, foi sepultado no Mausoléu de uma tradicional família campineira.


Retrato do Maestro Antônio Carlos Gomes por Décio Villares

Esse é o ponto de partida para nossa jornada sobrenatural com o monumental maestro. Embora fosse apaixonado por Campinas, Carlos Gomes não tinha boas recordações de sua terra natal.


Aqui saboreou, ainda em tenra idade, a dor de crescer sem a presença de sua mãe – Fabiana – descrita como “cabocla” e assassinada em circunstâncias não esclarecidas até hoje.


Foi embora porque sabia que, na melhor das hipóteses, seguiria os passos de seu pai talentosíssimo Maneco Gomes que era negro, que servia seus impressionantes dons à aristocracia escravagista da cidade, que nunca o ajudou a buscar voos maiores.


Destaquei as origens étnicas dos genitores de Carlos Gomes, pois sua condição de mestiço é tida como uma das razões para o maestro ter deixado Campinas, como já salientado, era governada por uma aristocracia escravagista.


Para não quebrar a trajetória do maestro, registre-se que ele foi de Campinas para o Rio de Janeiro, conheceu o Imperador que bancou seus estudos no conservatório de Milão e lá, o rapaz explodiu para o mundo da música, compondo suas peças mais notórias e ganhando elogios do próprio Giuseppe Verdi, seu grande ídolo, que profetizou: “Onde começa esse jovem, eu termino”


Mas, Carlos Gomes voltou ao Brasil, teve rusgas com os dirigentes republicanos do país, já que se negou a compor o hino na república, e voltou à Europa. Depois de um novo retorno ao Brasil, Carlos Gomes se estabelece em Belém onde remanesceu até seu óbito em decorrência de um câncer de língua e garganta.


Quase um mês depois de seu desencarne, seu cadáver chega em Campinas, depois da epopeia que seu corpo foi submetido, foi sepultado no Cemitério do Fundão, rebatizado Saudade entre os anos de 1924/1925, no mausoléu da família Ferreira Penteado e por lá ficou quase uma década.


E, muito provavelmente, este tenha sido o motivo do imaginário popular ou percepções mediúnicas, começam a descrever as histórias fantasmagóricas acerca de Carlos Gomes.


Dizia-se que ele saia do Cemitério da Saudade nas madrugadas, esbravejando e assustando quem estivesse em seu caminho até o centro da cidade.


As aparições só cessaram quando o monumento túmulo - que guarda seus espólios – foi construído e seus ossos foram transladados para o local. Mas, houve relatos de manifestações em seu piano, hoje no Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas.


Ao bem da verdade, essa espécie de relato começou a ocorrer ainda em Belém, enquanto o piano estava no Associação de Imprensa da Capital Paraense.


Há, inclusive uma matéria da Folha do Norte, de 22 de janeiro de 1922, onde relata-se que o piano começou a tocar sozinho. Na ocasião, muitas pessoas ouviram o histórico instrumento executando trechos de músicas do finado maestro campineiro, onipresente também em Belém.


O espirito de Carlos Gomes, além dessa manifestação em Belém, já foi avistado no Municipal do Rio de Janeiro e ouvido no Municipal de São Paulo – o interessante é que, no Teatro Municipal da capital paulista, Carlos Gomes nunca tocou “em vida” já que faleceu em 1896 e o Teatro foi inaugurado em 1911.

Mas, claro... As aparições de Tonico só acontecem em outras cidades quando ele entra em turnê.


Thiago de Souza é roteirista, compositor e idealizador do projeto "O que te assombra?"

 

 

    

 

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