E o Mourão, hein? Ah... o Mourão...
Por Daniel Soares
Tem muita gente falando sobre o Mourão ser uma alternativa. Alternativa a que? Por que?
O Mourão tem uma carinha simpática, do tipo daquele tio que todo mundo tem, que é conservador, mas não é reacionário. Não é o caso dele. Se fosse, não teria se associado a um sujeito da laia do presidente.
Permita-me, leitor, a pergunta: você se associaria a alguém comprovadamente ligado às milícias do Rio de Janeiro?
Mourão não é burro nem ignorante; se fosse não chegaria a general, o que não é bem o caso do sujeito que teve que partir para a carreira política porque sua carreira militar acabou depois que ele planejou um atentado contra o próprio exército.
Mas, se Mourão não é burro nem ignorante, não sabia das ligações de Bolsonaro com milicianos cariocas? É ele quem deveria responder.
Permita-me, leitor, a pergunta: você se associaria a alguém comprovadamente ligado às milícias do Rio de Janeiro? Provavelmente a resposta é a mesma que a minha: mas nem a pau, Juvenal! Nem cabem as discussões morais e éticas sobre o assunto!
Mourão nunca contradisse os malfeitos do governo do qual ele é parte fundamental.
Mas, então, quem é Mourão?
Uma declaração dada em 9 de julho de 2020, após reunião com fundos de investimentos internacionais que questionam a criminosa condução da política ambiental do poder executivo brasileiro, dá o tom de sua visão. Não guardei as palavras exatas, mas parafraseio: pedimos a eles uns dias para ver o que faremos, e, depois que fizermos o que acharmos que devemos fazer, eles têm que cumprir com a obrigação deles.
A arrogância se denota no final: eles têm que cumprir com a obrigação deles! Paremos por aqui um pouco. Investidores internacionais não têm obrigação de investir no Brasil. Ao contrário, muitos até gostariam, mas há cláusulas fundamentais em muitos fundos de investimentos que simplesmente proíbem o investimento em países ou empreendimentos que não adotem políticas sustentáveis em relação ao meio ambiente.
Feita esta pausa, é necessário que fique bem claro que Mourão nunca contradisse os malfeitos do governo do qual ele é parte fundamental. Nunca contradisse os malfeitos do criminoso Ricardo Salles – sim, criminoso condenado por improbidade administrativa em São Paulo, quando era secretário estadual de meio ambiente –, nem contradisse os desvarios que levam, hoje, o Brasil a 70.000 mortos pela crise sanitária (isso em números oficiais, já que incontáveis óbitos são atribuídos à pneumonia, portanto não computados nas estatísticas oficiais).
Assim, Mourão não faz parte da parte boa deste governo. Simplesmente porque não há parte boa nisto que aí está.
Devolvo a pergunta: e o Mourão, hein?
Daniel Soares, interino..
Ilustração: Retrato de Niccolò Machiavelli, Santi di Tito
Comments