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Atualizado: 23 de jun. de 2022

A estética do vinagre contra a fumaça fascista


“Todas as razões para fazer uma revolução estão aí. Não falta nenhuma. O naufrágio da política, a arrogância dos poderosos, o reino dos falsos, a vulgaridade das riquezas, os cataclismos da indústria, a miséria galopante, a exploração nua, o apocalipse ecológico – de nada somos poupados, nem mesmo de estarmos informados sobre isso. Todas as razões estão reunidas, mas não são as razões que fazem as revoluções, são os corpos. E os corpos estão diante da tela.”


Comitê Invisível



Na íris da boca do futuro, o anúncio do fim do mundo. Nunca a vida esteve tão presa aos olhos de vidro da máquina, e nunca foi tão necessários que os olhos, em chamas, fossem os nossos próprios, a guiar-nos pelos caminhos tortuosos da insubmissão. Estamos acossados dentro de nosso próprio território, vitimados pelos absurdos que vemos e ouvimos diariamente, reféns da eminente onda moralista e intolerante que se alastra feito um fogaréu que consome tudo o que vê pela frente, deixando pra trás apenas as cinzas e o eterno cheiro de morte que serve de combustível para essa locomotiva do horror que se estraçalha contra o nosso tórax sufocado. Já é impossível esconder a pilha de corpos debaixo do tapete imaginário criado pelo Estado Brasileiro. Impossível. O putrefato cheiro do descaso se espalha por todos os cantos, impregna todas as flores, e, que nos perdoe Maiakovski, mas se há no mundo algum ser que sinta no oco do peito algo parecido com a felicidade, uma coisa é certa: esse ser está bem longe do Brasil. Por aqui apenas o desespero governa e a sobrevivência virou um fardo difícil de se carregar. Alguns, crentes no futuro, apegam-se à justiça tardia da história com a sua tal lata de lixo e tocam o bonde. Nós não. Sabemos que não é possível delegar à história uma justiça que deve brotar de nossos próprios punhos. Não seria justo com a pobrezinha, tão pouco conosco. Outros tantos, por covardia ou conivência preferem não dar nome aos bois e culpam o tal sistema pela situação, mas o que é o sistema se não um conjunto de princípios, regras, instituições, costumes, interdições, dogmas e símbolos com território, raça e classe social bem definidos? É preciso nomear, gritar, combater… é preciso acordar e perceber que o futuro e o amanhã são privilégios de quem pode pagar por eles, e a lei simplesmente a vontade do mais forte sobre o mais fraco. Impossível delegar a um estado opressor a luta em nome da liberdade pois a liberdade desejada é esse mesmo Estado quem cerceia e combate, tranformando-a ora em privilégio, ora em mercadoria, mas sempre regulando-a através da ordem e da bocarra de seus cães de guarda fardados.


Em cumprimento aos anseios de liberdade que surgem nos raios de uma lua vestida de sonho, e em respeito aos versos quebrados de um soneto no fundo da alma, convocamos em caráter de urgência todos os brasileiros a levar às últimas consequências a luta contra esse mundo civilizado. Não cantaremos mais hinos nacionais, não louvaremos essa pátria feita de couraças, não entoaremos mais as bandeiras brancas da repressão, mas beijaremos na boca quente da revolta sempre que possível. Seremos selvagens e ritualizaremos nosso cotidiano em busca de uma afirmação de ser humano enquanto ser do desejo e não do consumidor de engenhocas eletrônicas sentado diante de uma tela brilhante rosnando contra um perfil enquanto as ruas permanecem entregues a ideologias que vestem coturnos pela madrugada e as multinacionais continuam a vender nossos sonhos e esperanças. Crentes em que a poesia é energia vital que pelo veneno descobre a morte e torna a carne eterna, e com a certeza de que o sistema teme a prática da poesia, esteja ela no papel ou na própria vida, nos recusamos a aceitar o suborno pouco das moedas e do ouro dos canalhas que não dão conta da existência e mesmo de bolso vazio insistimos: sossega o talão de cheques, covarde!


O ódio e a raiva enquanto potências revolucionárias

Hoje quem não sente raiva, ou até mesmo ódio, diante do descaso e do projeto assassino comandado por Jair Bolsonaro em terras tupiniquins não tem sangue correndo nas veias. Distanciados da filosofia namastê que hoje acomete setores importantes da resistência, acreditamos que esses sentimentos devem ser intensificados enquanto potências revolucionárias que nos movem em direção às ruas para exigir, mesmo que na base da pedrada, nossas vidas de volta. Não é possível passar mais um minuto que seja na atual situação em que nos encontramos atualmente. O nosso pau brasil é maior e mais potente que todos os cassetetes do mundo, e além dele temos tijolos, barras de ferro, coquetel molotov e muita disposição para a luta. Daqui pra frente a bandeira da pátria não degolará mais a liberdade coletiva e a família que mata é que está agora com seu pescoço a prêmio, não a gente.


Os corpos, eletrificados por essa realidade doída, são como obras poéticas prontas a explodir, dinamitar esse país bomba-relógio. A Revista Urro acredita que é preciso questionar a lógica vigente e, assim, restituir a vida a todos os brasileiros numa terra sem coronéis, sem barões e sem câmeras de segurança.


Boa leitura!

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