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Câmara Escura

Atualizado: 23 de nov.

Haitianas: um recorte de vidas a partir dos cânticos

Por Fernanda Teodoro Viana


Eu morava no Rio entre 2015 e 2016 ao lado da Cáritas, que presta assistência a refugiados, e foi mais ou menos nessa época que houve um grande aumento de solicitantes de refúgio vindos da Síria e do Congo. Percebi essa movimentação por lá e me interessei em fazer uma pesquisa sobre isso e logo decidi focar em mulheres refugiadas. 


Haitianas foi realizado com recursos do edital Proac (Prêmio Estímulo à Produção de Curtas)


Pesquisei sobre outras nacionalidades também e tinha começado a fazer contato com algumas, mas, por motivos pessoais, me mudei para Campinas em 2017. Aqui, procurei o Serviço de Referência ao Imigrante Refugiado e Apátrida do Município de Campinas, sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos para saber sobre o trabalho deles aqui com refugiados.


No mesmo ano comecei a participar como voluntária da Rede de Apoio ao Imigrante de Refugiados e percebi que em Campinas havia muitos imigrantes haitianos, mais do que qualquer outra nacionalidade, e decidi focar a pesquisa somente em mulheres haitianas.


A equipe do curta metragem de 15 minutos: produção foi feita durante a pandemia


Sempre me interessei muito por documentários de personagens por perceber que existem diversas maneiras de observar a experiência das pessoas e contar suas histórias. Foi uma experiência muito rica fazer essa pesquisa com as personagens, construir um possível roteiro de filmagem e lidar - o tempo todo - com o “risco do real”. Essa impossibilidade de controle e necessidade de estar aberta a imprevistos é que fez a experiência ser transformadora. Não aprendi só sobre a vida dessas mulheres, mas aprendi também sobre suas particularidades.


Norelia Placide


Depois de conhecer as personagens e suas histórias, veio a parte mais difícil: escolher o que contar e como contar. Todas têm muitas coisas ricas e interessantes a dizer, mas a limitação do tempo me obrigou a fazer um recorte dessas histórias. Seria ótimo poder fazer um longa metragem para que outros aspectos pudessem estar no filme, além de aprofundar sobre cada personagem. Mas, a descoberta de que os louvores era algo que ligava as três personagens, me ajudou a fazer esse recorte e decidir sobre o corte final.


Chantal Paul Esperiance

  

Há várias maneiras de se contar histórias de pessoas e eu vejo o audiovisual como uma maneira que possa trazer sentimentos e sensibilidade junto com as histórias.

Infelizmente, não é possível dar conta totalmente do processo. Sempre há algo que fica de fora, que poderia ter sido feito diferente, que não deu certo, que ficou faltando. Mas, pra mim, o mais interessante é justamente o processo, o aprendizado, a experiência e, principalmente, o contato e convivência com as personagens.


Marie Oliane Sainteliat


Acredito que para as haitianas o filme é uma maneira de se reconhecerem e se identificarem com as personagens, gerando interesse em falar mais sobre suas histórias, cultura e tradições. Para as personagens, acredito que seja uma forma de dar visibilidade às suas necessidades, dificuldades e expectativas como mulheres negras imigrantes, que  tiveram que sair de seu país, aprender uma nova língua, batalhar e cuidar dos filhos e da casa no novo país, trabalhar e estudar para conseguir melhores oportunidades na vida. 


Assista: Haitianas




Fernanda Teodoro Viana é graduada em Letras – Inglês/Literaturas (UERJ) e Cinema (UFSC). É pós-graduada em Literatura Inglesa e Americana (UERJ) e em Direito do Entretenimento (UERJ). É diretora, produtora audiovisual, além de trabalhar com mostras e festivais de cinema, cineclubes, distribuição e licenciamento independentes.


 

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