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Convescote

Atualizado: 21 de jun. de 2022

Entrevista com Vinicius Lustoza, historiador, professor e criador do podcast Conta Essa História.



Convescote. A ideia surge do encontro, do deslocamento até o outro, da comunhão, se possível alcoólica, entre humanos. Uma conversa despretensiosa, um brindar de copos amistoso, um piquenique num fim de tarde qualquer. Convescote: um diálogo interativo, tão simples quanto delicioso, mas quase impossível nestes tempos sombrios de isolamento. Quase, isso mesmo. QUASE! Porque é raro, mas vez ou outra a vida tem das suas e usa de seus encantos e coincidências para nos surpreender, sabe como é? E mesmo que alguém diga o contrário, a gente sabe que, por mais que se tente, é impossível fugir completamente das garras do acaso. O acaso: esse tesouro que se esconde entre as esquinas da rotina. Pois bem, foi na base do agrado e do capricho que, no meio da pandemia, o acaso fez com que o entrevistado dessa nova edição da Urro fosse o novo morador da edícula da casa de um dos editores dessa Revista, possibilitando dessa forma que o papo rolasse entre latas de cervejas, guimbas aos montes, suco de uva e até uma porção generosa de formigas fritas. Como é impossível transcrever para esse espaço mais do que as palavras que foram jogadas ao vento naquela ocasião, é preciso que o caro leitor imagine o bailado da fumaça dos cigarros, os sorrisos e os lábios cerrados em expectativa, e o sol que tingia de dourado a vida naquela tarde límpida de sábado. Apesar de toda essa dor, do tanto desse abismo, as vezes é preciso respirar. Acho que essa entrevista foi isso: um respiro no meio desse turbilhão sufocante que atravessamos sem lenço, sem documento e sem governantes há mais de um ano. Mas chega de papo, ou melhor: vamos iniciar o papo. Para essa edição da Revista Urro entrevistamos o historiador Vinicius Lustoza, historiador, professor e criador do podcast Conta Essa História, que tem como objetivo principal a divulgação científica de ciências humanas através do debate de obras da cultura pop.


Ah, e é claro: aproveitem, como nós aproveitamos.


O sol reinava alto e quente no oco de um céu azul salpicado de nuvens naquele sábado. Apesar da beleza que pairava acima de nossas cabeças, o calor era insuportável pros lados do distrito de Barão Geraldo, de modo que a cerveja, além de um prazer, era acessório de sobrevivência imprescindível, como ainda tem sido até hoje: seja pra segurar o calor absurdo que enfrentamos ou pra aguentar o relinchar criminoso e desumano do jumento que atualmente ocupa o planalto. Eu acabara de abrir a segunda lata, e depois daquele estalo inconfundível o líquido borbulhante começava a escorrer pelo corpo metálico em direção à mesa de madeira quando foi dado o play no gravador e a pergunta veio de bate-pronto:


Como surgiu a ideia de um podcast de divulgação científica?


Vinicius, que ainda não havia dado nem um gole em seu copo de suco enquanto a minha segunda lata já tombava vazia escorada na parede, pegou de primeira:


No começo a ideia não era um podcast de divulgação científica. Bom, vou começar do começo. (risadas). Era o início da pandemia ainda. As aulas, antes presenciais, começavam a acontecer de maneira remota. Como eu tinha gravado algumas vídeo-aulas para o cursinho onde trabalho, pensei que seria interessante colocá-las no Youtube. (...) Só que eu dei uma olhada no site e putz: tinha tanta vídeo aula pipocando ali que eu seria um grão de areia nessa ilha imensa de vídeo-aula de história na internet em tempos pandêmicos. Além disso tem muita gente que faz esse trabalho com excelência, o que às vezes gera até uma espécie de competição entre produtores, professores de história... coisas assim. Não era a minha. Na mesma época eu tinha acabado de assistir a série Watchmen, por indicação de uma amiga, uma colega,

e aí juntei as duas coisas. Falei: olha, a série é bacana, e me veio a lembrança de um rolê muito bacana também que acontecia no IFCH, em quadros não pandêmicos, é claro, que era simplesmente o pessoal se juntar e bater papo.

É uma coisa normal, né? Todo mundo faz isso (risadas) as pessoas se juntam e batem papo mas ali, pelo ambiente acadêmico, a gente batia aquilo que chamam de papo cabeça, sabe? (muitas risadas e mais uma lata estralando ao fundo). Então, sempre rolava papo sobre série, livros... esse tipo de coisa.

Aí pensei: poxa, tem saído tanta coisa boa e a gente sem comentar muito, sem aquele bate papo... Nisso veio a ideia de reunir amigos, conversar e tornar isso público pra... sei lá... dar risada e o pessoal rir com a gente. Sim, era isso! A ideia principal era houvesse um público que ouvisse e risse com a gente.

Só que a pandemia piorou nesse meio tempo e todos passamos a acompanhar o trabalho do Átila e eu percebi que a questão da divulgação científica estava quase sempre ligada às exatas e biológicas, sabe? Parece que só tem exatas e biológicas: física, química, biologia, medicina; mas e as humanas? Não sei, parece as vezes que as humanas viraram opinião, papo de buteco, coisa informal. Não tô dizendo aqui que é preciso ser historiador pra falar sobre história, por exemplo, a ideia não é essa. Não é. Mas é preciso combater alguns achismos absurdos, distorções criminosas, mentiras. Sabe aquela coisa: “ah, mas o nazismo é de esquerda”, que rola agora? Então... Isso ser uma verdade pra algumas pessoas ainda divulgam essa informação mentirosa é demais. Porra, eu não vou chegar por aí afirmando que a gravidade é pra cima... tem coisa que é inconcebível. Aí sei lá, resumindo tudo é isso: surgiu a ideia de fazer um podcast com a pretensão de fazer divulgação científica e usar elementos e referências do pop pra isso. Filmes, séries, músicas. Nós quatro vamos nessa ideia.


Nesse instante o ventilador recém colocado no canto de frente à mesa pra ajudar no trabalho da cerveja, que já anunciava que não daria conta de sossegar aquela quentura sozinha, fez bailar uma lata quase vazia até que a danada tombou e caprichosamente regou de cevada a tela do celular que gravava a conversa. Enquanto mãos corriam pra secar o aparelho e garantir a continuidade da entrevista alguém sussurrou do além:


Vini, você diz nós quatro. Quem mais faz parte do projeto quando o assunto é gravação?


Bom, as quatro pessoas são... primeiro eu, né. Claro. Na verdade eu idealizei o podcast e juntei a galera. Então, eu sou formado em história aqui pela Unicamp, no IFCH. Aí temos mais dois historiadores, na realidade um historiador e uma historiadora: o Gabriel Seghetto, meu colega de curso. A gente fez uma pesquisa semelhante na Unicamp, fizemos parte do mesmo grupo de pesquisa, o Diáspora Africana, e o Gabriel manja demais de debates raciais, principalmente debates raciais nos EUA, por isso até a escolha pela série Watchmen como primeiro episódio. A historiadora é a Mabi, Amábile Zanco, aliás acho que ela me indicou a série antes do Gabriel. Ela não conhecia o Gabriel, por exemplo. Se conheceram através dessa ideia. E acho que na mesma época eu estava conversando muito com meu primo que mora atualmente nos EUA, o Victor de Paulo,

e o papo sempre era o Trumpismo, a violência policial, isso tudo ainda perto daquela coisa do assassinato do Jorge Floyd. Aí aquela coisa de debates raciais rolando em todos os lugares, e pareceu bacana juntar uma voz in loco, um cara que tá lá, também de humanas, pra contribuir com uma outra visão,

afinal ele não é de história e faz as suas pesquisas através de muitas redes, e eu vou usar aspas aqui, “informais”, como twitter, facebook, redes sociais no geral. Então ele tem acesso, encontra, pesquisa grupos supremacistas brancos que atuam na rede, e tudo isso com informações e conhecimentos in loco que a gente não tem ou tem pouco acesso aqui, então contribui pra essa outra visão. Ah, a Mabi faz estudos com genêro, estuda antiguidade clássica. Então vamos lá: tem uma galera que faz debate racial, estudo de gênero, um publicitário que mora nos EUA, militante LGBT, e a gente achou que isso casava demais, eram peças muito boas pra construir um debate diversificado e fomos. E tem também a equipe de texto: Dafne Sponchiado, Victor Schlude e Flávia Catusso.


Alguém, provavelmente um bebum, solta quase como um arroto: “E porque usar a cultura pop?”


Porque usar a cultura Pop? É, a divulgação científica de ciências humanas podia ser... sei lá: pegar um trabalho acadêmico, ou um clássico, um Hobsbawn, e a aí gente ia ficar falando, mas... falando pra quem? Pra um grupo específico? Não rola. Agora, se eu pego a série que a pessoa gosta e dá pra usar Hobsbawn, ela vai se interessar por isso. E rola esse lance com séries, filmes, HQ’s, né? Acho que principalmente com séries... essa coisa das pessoas assistirem a série e depois pesquisarem na internet. Eu queria aproveitar esse gostinho de quero mais para fazer a divulgação científica. Tanto que nas nossas discussões a gente analisa a série, traz uma bibliografia acadêmica mas não deturpamos essa bibliografia, não deturpamos a leitura. Acho que a gente torna a coisa acessível e consegue manter um nível de discussão bom também.


Daniel, muito fino, reflete: Então pelo que você está falando a gente pode entender que você usa o podcast para aprofundar debates que foram despertados em veículos de cultura popular. Você usa esse interesse que o público já teve por um tema, por um assunto, e aprofunda o debate inserindo elementos acadêmicos nessa discussão. É mais ou menos por aí?


Perfeito, Daniel. Vou usar novamente o exemplo do Watchmen: as pessoas que assistiram viram o massacre de Tulsa. Isso é algo desconhecido do grande público, por exemplo, que a série trouxe pro debate. Olha como através de algo, vamos dizer assim pop, você desperta o interesse popular para algo traumático, absurdo que aconteceu... e...


Daniel: Não só traumático e absurdo mas também escondido debaixo da história americana, um tabu dentro da história americana.


Exatamente. E depois de ter contato com algo as pessoas vão pesquisar, vão se informar mais sobre aquilo. E aí a nossa formação, a formação de historiador, ela nos ensina a pesquisar e então a gente vai atrás de relatórios oficiais, coisas que estão em inglês, e tenta tornar isso acessível pros nossos ouvintes, que nas suas pesquisas talvez não chegassem a esse resultado por diversos fatores. E olha, tem que ter estômago pra ler esses relatórios. É pesado. Os linchamentos no Red Summer, reinvindicações de políticas separatórias. Terrível.


Mais um dedilhar de latas sendo abertas paira no horizonte. Uma trombeta barroca, talvez anarquista, ecoa no fundo em tom de dúvida.


Vini, a partir do momento em que a produção acadêmica começou a entrar nessas vias mais populares e acessíveis, meios de divulgação que hoje estão até na moda, como o próprio podcast, essa produção começou a ser mais comentada. Parece que houve uma quebra naquele pensamento, na minha opinião elitista, de que sem aparato intelectual e referências muito bem fundamentadas não se pode falar sobre certos assuntos. E rola, a gente sabe, aquela coisa de que os próprios acadêmicos ajudaram com o tempo a criar essa figura inacessível do intelectual na torre de marfim que não perde tempo com tipos e gostos populares, né?


Eu concordo com isso, tenho inclusive algumas observações. Pra começar eu acho que essa demanda de tentar levar o conhecimento pra fora da universidade não é nova, ela é antiga na realidade, só que ninguém, ou quase ninguém, fazia isso. E tem a questão da internet facilitar também.


Um saxofone sola de maneira brilhante: Eu acho engraçado a própria discussão sobre levar o conhecimento acadêmico pra fora da universidade, afinal a essência da universidade é desenvolver conhecimento que seja levado pra sociedade, não é? Então acho gozado quando a gente tem que falar “pô, tem essa discussão sobre levar...” Quer dizer, nem deveria ser pauta de discussão isso, né? Esses canais a própria academia deveria ter desenvolvido há muito tempo, no sentido de disseminar o conhecimento que é armazenado dentro da universidade.


Vini está com os olhos brilhando e dá de acordo: Exato! Exato!


Um grito do fundo do mato: Ah, vamos pegar outra rodada de cerveja!


As latas chegam estupidamente geladas. Chegam também algumas coisas para salgar a boca. Lá fora o vento assovia, trotando em direção aos muros e se estilhaçando em brisas suaves que coreografam o bailado das folhas secas pelo asfalto.


Bruno: Como é o processo de criação e produção dos episódios?


O processo é simples: escolhemos uma produção da cultura pop, assistimos ou lemos, ou reassistimos e relemos, afinal são 4 nerds conversando (risadas). Aí eu acabo centralizando, pois cada um fala pra mim o que achou, que pontos acha interessante abordar e tal. Aí discutimos a pesquisa, bibliografias possíveis, e sempre já batendo papo para criar. Aí rola um tempo pra pesquisa que cada um desenvolve, geralmente duas ou três semanas, e então novamente eles vêm conversar comigo, apresentar a pesquisa, debater abordagem... e isso cria uma coisa legal, pois eu acabo sabendo o que todos vão falar mas eles não sabem sobre o que cada um vai falar, acho que assim a gente quebra aquela coisa de bater tabela, né? E eu centralizo essas coisas, essas informações, pois acabo conduzindo o debate, até porque também sou o responsável pela edição, então isso evita buracos vazios.


Daniel: mas a obra sempre precede a pesquisa ou vocês já decidiram abordar um tema e então pesquisaram obras para abordar esse tema?


Não, a ideia é partir da obra pop, algo que está gerando discussão no momento e então pesquisar elementos com os quais podemos criar pontes. E no podcast a gente basicamente constrói essas pontes.


E é legal falar uma coisa também: o projeto nasceu como podcast, mas hoje ele não é só um podcast. Hoje ele tá maior. A gente conta com uma equipe de textos que alimenta as nossas redes sociais tipo facebook, instagram e o médium... principalmente o médium. Aliás, o médium é uma plataforma maravilhosa pra texto. Uma espécie de repositório. A gente tem demógrafos, antropólogos, sociólogos, linguistas e historiadores que fazem leitura de sua área pra colocar texto. O cara da linguística, por exemplo, mandou um texto sobre o filme parasita, letramento digital, um troço fantástico que tá lá no médium acessível. E a ideia é que essas produções textuais possam ser usada em salas de aulas. Eu mesmo já usei textos de lá sobre a série Chernobil. A ideia é tornar esse conteúdo acessível para professores usarem esse em salas de aula, afinal os alunos são consumidores dessa cultura.


Um gato passa correndo, talvez até voando, por baixo da mesa. Do vulto de sua passagem surge uma indagação: ao mesmo tempo que tem Chernobil, Parasita, tem material a respeito dos clássicos da Disney por exemplo. Como funciona a escolha das obras? É por conta da popularidade, do momento, pelo gosto pessoal de algum dos responsáveis?


Eu acho que a escolha resulta de um cruzamento de informações, por exemplo: a popularidade, claro, mas o quanto suscita discussões também. Mas as vezes é complicado. Chernobil foi um caso que a gente achou que era mais popular.. não sei se por ser da HBO, uma plataforma mais cara... não sei mesmo. E aí a gente vai tentando variar o tipo de produção, os temas, essas coisas. Acho que isso ajuda também a diversificar o público. Não pode ser essa coisa de gosto disso, não gosto daquilo.


Daniel : mas nem sempre o popular suscita algo que seja digno de debate ou discussão, né?

Ah, sim. Mas não sei. Acho que... talvez a gente nunca faça um episódio sobre Chiquititas? Acho que não, mas faremos sobre o filme As Patricinhas de Beverly Hills, um clássico da sessão da tarde. Então acho que dá pra falar de tudo se houver uma abordagem adequada.


Bruno: E o Conta essa News? Acho interessante comentar esse quadro.


Ah, sim. É um quadro novo, que surgiu espontaneamente. Até agora só gravamos um episódio, mas a ideia é basicamente discutir algo da atualidade esclarecendo e fazendo pontos com a cultura pop. Aliás bem observado falar dele, tamos gostando de fazer o quadro.


Novamente o bebum que habita todos nós em tom de arroto: Mas qual é a pegada?

A pegada é o que tá rolando, que explodiu agora. O primeiro foi sobre essa questão do capitólio. Aí rolou paralelos com Watchmen, The Bird, uma noite de crime. Então e a ideia é essa: algo da atualidade paralelo com essa coisa pop. Devemos fazer um sobre a posse do Biden e sobre a vacina, esse uso político e criminoso feito pelo governo federal da vacina.


Novamente um solo de saxofone: Inclusive eu queria falar sobre isso. O podcast tem duas coisas ali bem claras, bem específicas em sua fundação, que são a cultura, no caso a cultura pop, e a divulgação e o trabalho científico produzido nas universidades. Ambos estão sob constante ataque do governo federal. Você considera que o podcast pode também ser uma espécie de resistência. Sabe? Essa ideia de mostrar o quanto são importantes a produção cultural e acadêmica e como elas estão próximas das pessoas? Aliás mais próximas do que elas imaginam. Que rola atualmente, né? Aquela coisa de dizer que dinheiro gasto com cultura e com universidade pública é dinheiro jogado fora. Por parte dos apoiadores do presidente e até dele e de seus ministros, por exemplo.


O vizinho bolsonarista relincha: coisa de vagabundo! Maconheiro!

(risadas e barulho de pedras quebrando vidraças)


Sim, eu concordo. Creio que meus colegas de podcast e professores de sala de aula, são atualmente meus companheiros de trincheira. Eu acho que é sim um jeito de mostrar e valorizar as produções acadêmicas e fazer com que as pessoas tenham contato com elas, baseadas em pesquisas e trabalhos sérios e não achismos e fake News. Hoje a gente vive esse absurdo desse negacionismo sem base alguma, fruto da cabeça de pessoas sem a menor qualificação ou conhecimento, gente que mente, que engana... por exemplo: outro dia o sujeito, o presidente, assumiu que a cloroquina é um placebo e foda-se. “não matei ninguém, a culpa não é minha”. Os caras negam o óbvio e negam vídeos, gravações que provam seus crimes.


UM CORO GREGO: É FODA PRA UM INTELECTUAL, UM ACADÊMICO OU PRA QUALQUER PESSOA COM O MÍNIMO DE ESCLARECIMENTO PERCEBER QUE ATUALMENTE A VERDADE, A CIÊNCIA COMPROVADA POR PESQUISAS, TEM MENOS CREDIBILIDADE E IMPORTÂNCIA PARA GRANDE PARTE DA POPULAÇÃO DO QUE UMA MENSAGEM EM MASSA DISPARADA PELO ZAP.


Daniel: Os caras tão estudando pra combater abobrinha e tão perdendo!


CORO GREGO: ABSURDO!


Mas por exemplo, é possível combater e ganhar. Acho que questão pode estar na abordagem e apostamos na cultura pop. Nós mesmo, pesquisando, aprendemos muito! A gente não tem medo de discordância, o pensamento se forma assim, mas tem coisa né... mamadeira de piroca, terra plana. Aí não dá.


O estudante Marxista saído de uma obra de Oswald de Andrade: Camaradas, tem uma coisa que eu vejo muito o pessoal de podcast comentar, sem querer mudar de assunto, mas já indo na contramão, que é esse lance de as novas produções da internet serem gratuitas e a ideia de que o gratuito não tem custo, é benfeitoria. A gente chega, dá o play e não sabe como se dá a produção daquele conteúdo, quanto tempo demanda, quantas pessoas estão envolvidas, quais equipamentos são necessário. E aí rola essa coisa interessante da vaquinha. Vocês tem algo do tipo? Porque eu vejo que a galera começa a colaborar compreendendo que o conteúdo não se difere de um livro físico, um disco...


Então, até agora a gente banca tudo. E trabalha muito. Captamos som de madrugada por conta de barulho, e tudo isso fora as nossas ocupações que de fato nos sustentam economicamente. É uma luta. Eu ainda como convidei as pessoas não cobro trabalho de questões técnicas, eu tento fazer tudo. A Mabi e o Gabriel, por exemplo, fazem mestrado, além de pesquisar pra gente e participar do podcast. Eu sou professor... mas vai muito tempo. Leitura, eu com edição de imagem e som, captação, aparelhagem... editor visual, vinheta... administrar redes sociais, plataformas, é complicado. Coisas que a gente coloca dinheiro do bolso... e é coisa cara, grana que as vezes não tá sobrando. Ou seja, não é porque é gratuito que não dá trabalho ou não tem custos.


Daniel: pode dizer que tá virando um coletivo de produção então?


Exatamente. O caminho é esse. Somos hoje mais que um podcast, mais que um projeto de divulgação cientifica de ciências humanas. Disponibilizamos acervo digital, analise de fontes, bibliografia, tudo disponível. Então queremos difundir conhecimento que tá aí, muitas vezes parado. Agora, a gente consegue isso? Acho que da nossa maneira conseguimos. O primeiro público é sempre a nossa bolha, nossos amigos, mas aos poucos a coisa vai crescendo, expandindo e aí vai.


O estudante Marxista saído de uma obra de Oswald de Andrade: Vini, falamos muito sobre o que vocês fazem, como fazem, quem faz; mas fica uma coisa no ar que eu queria esclarecer: PORQUE VOCES FAZEM?


Eu respondo da minha perspectiva, afinal a galera toda deve fazer por conta de seus motivos mas eu amo e consumo cultura pop, amo ser professor e acho que através do podcast é possível unir as duas coisas e levar conhecimento pra todos, valorizar produção cientifica, no caso de humanas, e fazer algo que contribua para o crescimento das pessoas no sentido do conhecimento.


CORO GREGO: Então fazem por tesão mesmo?


É tesão! Isso, é tesão!


Nesse instante as mãos, encharcadas de cerveja, correram o corpo molhado do aparelho celular para pausar a gravação e finalizar a entrevista. Lá fora a noite já começava a pratear o fim do dia, a lua vinha calma e envergonhada trazendo consigo uma leve brisa que enxugava o suor trazida pela tarde. O Brasil ainda estava em pedaços, a raiva ainda estava presa na garganta, e o descaso corria feito ventania pindorama a fora. Tudo estava igual, é verdade, mas era impossível não sair dali com um sorriso discreto no canto da boca ao pensar que, mesmo com toda a impossibilidade, ainda é possível sonhar nessa terra devastada. E, pra acompanhar a manta de estrelas, resolvemos passar pro amargor do malte.


Para conhecer o podcast, este é o link:

@contaessahistoria1




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