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Como assistir a filmes ruins Parte VII

Por paulodetarso



Parece, mas não é.


Filmes ruins SEMPRE tem muitas receitas. A mais simples é juntar coisas improváveis. Quase nunca dá certo!


Viagens no tempo, misturar pessoas de outras eras, tecnologias, convivência entre seres dispares (ver Bright 2017 dirigido por David Ayer e escrito por Max Landis) violência e mistérios mal colocados e mal resolvidos.


Formam a base de um roteiro que não vai encontrar boas soluções para resolver um filme. Lembrando que o roteiro sempre se destina a produção de uma solução a um problema. E por outro lado o roteiro sempre se destina a imagem.


A primeira característica dos filmes ruins (que não é o caso aqui) é o fato das traduções para o português serem quase sempre terríveis. Aqui e em Portugal, que também não se foge ao caso. A Folha de S. Paulo de 08 de abril de 2008, na coluna de José Simão, contava que em Portugal o filme Ben-Hur! Tinha o complemento “charreteiro infernal!”. Numa das mais incríveis, "Planeta dos Macacos" (2001), que praticamente revela o final do filme, em Portugal é conhecido como “O Homem que Veio do Futuro”.


Outros títulos no Brasil são igualmente sofríveis, Amnésia, tinha como título original Memento, a tradução literal do latim: Lembra-te. No filme o personagem reiteradas vezes diz que não tem amnesia.


Ainda outro título no Brasil, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, Título original: Annie Hall. Mais uma vez o título tem mais a ver com as neuroses do tradutor do nome do que propriamente com a história do filme.


Foi exatamente esta a receita dos criadores de “Beforeigner” Os Viajantes, na claudicante, tradução para português. A série criada pela dupla Anne Bjørnstad, Eilif Skodvin, é a primeira produção original norueguesa, da HBO. Dirigida pelo competente e premiado diretor Jens Lien.


Há uma espécie de paternalismo filológico nestas traduções-nomeações. As pessoas acham que os nomes de filmes têm algum poder de atração. Pessoas olham em geral críticas, notícias de lançamento e pequenas resenhas antes de se decidirem por este ou aquele filme.

O sentido etimológico e original de Beforeigner, palavra criada pelos autores, é uma gíria derrogativa dos visitantes para os moradores de Oslo. No Brasil a série será conhecida por “Os Visitantes”.


A história se passa em Oslo, onde flashes de luzes prenunciam o surgimento de pessoas vindas de outras eras: pré-história, vikings e do século XIX. Há o momento inicial do surgimento das pessoas e logo ao um curto salto no tempo. Esses visitantes estão adaptados a vida contemporânea de Oslo. Há um certo incomodo, quando olhamos estes grupos distintos vivendo no presente. A conexão com imigrantes e migrantes é imediata. A sociedade, entretanto, aqui não é confrontada com os outros, mas com os seus. Eles são a origem de todos ali. E esta sensação de estranhamento aumenta quando se estabelece a similaridade da situação da Europa neste momento. Nos muros vemos frases que estão nos muros de Berlim, Grécia e Itália. São os mesmos sentimentos de revolta pela presença deste outro.


É curioso ver um indivíduo do século XIX ou um cro-magnon utilizando celulares, lidando com e-mails e tratando da educação contemporânea, com argumento de séculos atrás.


A trama central é a morte de uma mulher que aparece morta na praia. A polícia é chamada para proceder às investigações. O policial designado para o trabalho é o ator Nicolai Cleve Broch fazendo o papel de Lars Haaland, e Krista Kosonen atuando como a nova parceira Alfhildr Enginnsdottir, uma jovem viking.


Os dois que são seres de mundos distintos e eras diferente devem realizar seu trabalho com as consequências dessas diferenças. A trama ainda que incompleta e com pontos obscuros foge do tradicional filme ruim, aqui sempre abordado. Vale a pena assistir e refletir sobre os problemas colocados pelos roteiristas e que são problemas da vida contemporânea.


A série tem 6 capítulos na primeira temporada e devido ao sucesso a continuação já foi encomendada.


Muita coisa que acontece no filme não tem uma explicação clara para o expectador. Mas, por outro lado, os próprios autores ainda não têm todas as respostas para dar, o que torna a série instigante.


paulodetarso é arquiteto, artista plástico, artista gráfico e doutorando em artes visuais.


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